À Rubem Fonseca
Despertei. Estou de mau-humor. Acordar de mau-humor é uma ótima maneira de arrostar o dia, sem sorrisinhos falsos de homens com remelas nos olhos. Bom dia é o caralho.
Tente entender: Moro há um mês num sobrado com minha mãe. Além da perda de privacidade, tenho que ouvir seus amiguinhos escrotos falando ao telefone. Eu não mereço isso. Estou nervoso, vou me mudar amanhã.
Meu tio possuí várias kitnetes, as quais herdou da minha vó. Não foi bem isso, mas simulemos que sim. Ele vive dos aluguéis desses imóveis. São seis. Há quatro na parte frontal e duas na parte de trás do terreno. Como eu e minha mãe estávamos morando em uma kitnete, e ele, meu tio, em outra, sobraram quatro.
Pensando em seu conforto, em seu umbigo, em suas mulheres, em suas roupas, o filho da puta do meu tio praticamente impôs que vai morar comigo. Filho de uma puta! Sempre soube que seus olhos eram maiores que a cara, um dia eles pularão da órbita, de tão grandes.
Tento respirar, tento ler, tento dormir. Não consigo. A energia elétrica foi cortada, estamos no escuro. Alimentos apodrecem na geladeira. Rio, pra não chorar.
É noite de sexta, vou ao teatro, há um festival na cidade. Meu tio me acompanha. Coitado, sinto pena dele, mal sabe escrever o nome e se acha apreciador de artes cênicas. Quando penso nisso, sério, caio na gargalhada.
Ao irmos ao teatro, julgo estar tudo bem, pois conversamos normalmente. Pura ilusão. A peça acaba, ele começa. Fala, fala, fala. Ouço, apenas ouço. Não vale a pena descrever nosso diálogo, pois além de baixo, foi muito pessoal. Suas palavras me tocaram no íntimo. Ofenderam-me de verdade. Isso é raro, não lembro a última vez em que isso aconteceu. Quando conheceremos realmente uma pessoa? Quantas faces possui um homem? Não me atrevo a responder.
Estou desacreditado. Nada será como antes. Nada será como antes, repito em voz baixa.
Foi uma noite surreal, inacreditável, pareceu sonho, ou pesadelo. Pareceu, mas não era. Vi que era tão real quanto seu baseado aceso.
De cabeça baixa me retirei, prometendo ser duro, ser forte. Prometendo mudar. Nada será como antes.
Tente entender: Moro há um mês num sobrado com minha mãe. Além da perda de privacidade, tenho que ouvir seus amiguinhos escrotos falando ao telefone. Eu não mereço isso. Estou nervoso, vou me mudar amanhã.
Meu tio possuí várias kitnetes, as quais herdou da minha vó. Não foi bem isso, mas simulemos que sim. Ele vive dos aluguéis desses imóveis. São seis. Há quatro na parte frontal e duas na parte de trás do terreno. Como eu e minha mãe estávamos morando em uma kitnete, e ele, meu tio, em outra, sobraram quatro.
Pensando em seu conforto, em seu umbigo, em suas mulheres, em suas roupas, o filho da puta do meu tio praticamente impôs que vai morar comigo. Filho de uma puta! Sempre soube que seus olhos eram maiores que a cara, um dia eles pularão da órbita, de tão grandes.
Tento respirar, tento ler, tento dormir. Não consigo. A energia elétrica foi cortada, estamos no escuro. Alimentos apodrecem na geladeira. Rio, pra não chorar.
É noite de sexta, vou ao teatro, há um festival na cidade. Meu tio me acompanha. Coitado, sinto pena dele, mal sabe escrever o nome e se acha apreciador de artes cênicas. Quando penso nisso, sério, caio na gargalhada.
Ao irmos ao teatro, julgo estar tudo bem, pois conversamos normalmente. Pura ilusão. A peça acaba, ele começa. Fala, fala, fala. Ouço, apenas ouço. Não vale a pena descrever nosso diálogo, pois além de baixo, foi muito pessoal. Suas palavras me tocaram no íntimo. Ofenderam-me de verdade. Isso é raro, não lembro a última vez em que isso aconteceu. Quando conheceremos realmente uma pessoa? Quantas faces possui um homem? Não me atrevo a responder.
Estou desacreditado. Nada será como antes. Nada será como antes, repito em voz baixa.
Foi uma noite surreal, inacreditável, pareceu sonho, ou pesadelo. Pareceu, mas não era. Vi que era tão real quanto seu baseado aceso.
De cabeça baixa me retirei, prometendo ser duro, ser forte. Prometendo mudar. Nada será como antes.