quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Houve uma vez em que explodi.
Não sobrou nada, nem mesmo cinzas.
Me vi fora de mim, olhando para quem não me via.
Sensação estranha, que, aos poucos, se tornou agradável.

Não mais seguiam meus passos,
Muito menos reparavam minha sombra.
Não secavam minhas lágrimas,
Porém ainda as provocavam.

Não me achavam estranho,
Me olhavam com indiferença, talvez por não me verem.
Me deixaram observar a Lua
E caminhar noite afora.
Ignoravam minha presença.

Num certo momento implorei por atenção,
Chorando desesperadamente, caí em soluços.
Por fim me conformei.
Acordei.
Tudo voltou a ser como antes.
Sinto falta da minha pseudo-existência.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

1º de Fevereiro de 2008

Ele está drogado, acaba de experimentar mais uma das novas drogas sintéticas, pré fabricadas para festas raves. Ele não irá numa dessas festas, mas ainda assim a tomou. Largado, tímido, até oprimido se encaixaria no momento. Não liga pra nada, é carnaval, não gosta do som que ouve nas ruas, tem um MP3 à mão. A droga começa a fazer efeito, o suor escorre pelo corpo como se uma tempestade o atingisse. Cigarro à mão para controlar a ansiedade. Bebera antes, isso pode fazer-lhe mal.
Alguém se aproxima. É uma mulher. Está tímido, não sabe direito o que ela quer. Come cigarros e mais cigarros pra esconder o nervosismo. Ainda sua como um porco. Na camisa uma estampa do "Laranja Mecânica". Ninguém o nota por isso, exceto ela, a menina que se aproximou. Ele está passando mal, mas continua levando, curioso pra ver onde isso pode parar.
Então ele a beija, de uma maneira lenta e confiante. A última coisa que imaginava era aquilo estar acontecendo. Mas estava.
A leva pra longe dali. Pessoas olham incrédulas, reparando que um menino franzino, com cara de criança, acompanha uma menina com cara de mulher, pretendida por muitos homens com cara de homem.
A vida é assim, não sei porque, mas é.
Eles andam pela praia, a brisa os envolve, as ondas os abençoam.
Sentam, conversam, beijam-se, se organizam. "É surreal", pensam os dois, no mesmo segundo. Há poucas horas atrás nenhum deles imaginaria, nunca, que isso estaria acontecendo. Mas está. Ele agradece a Deus em seus pensamentos, culpando-se por estar tão afastado Dele. Não sei o que ela pensa. Ele fala bastante. Quer passar uma boa imagem, e parece conseguir. O celular dela toca, é uma amiga. Terá de ir embora. Triste e feliz. Assim ele se sente. Triste por saber que é apenas uma aventura carnavalesca e que poderão nunca mais se ver. Feliz por tudo aquilo ter acontecido, feliz mesmo.
Ela se vai, ele também. O menino agradece pela noite como a muito tempo não fazia. Quase chora de felicidade. Caminha, caminha, caminha, apenas pra passar o tempo e não deixar tais acontecimentos se perderem. Não quer dormir, e não dorme. Pensa o que será o dia seguinte.
E assim amanhece. Tem saudade, uma saudade gostosa, contagiante. Assim foi o primeiro dia de carnaval de um pobre menino, desiludido, poético, melancólico, pensativo, porém livre. Livre para viver.